segunda-feira, 1 de maio de 2017

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Como vai ser
quando nosso amor ficar velho
como essa cidade que não conheço
Será que tem gente apaixonada por aqui?
tem alguns coqueiros ao longe
ao vento
com desejos de pássaros
calçadas gastas de tantos ires e vires
portais sem reforma
pendurados no tempo
com a boa vontade de ser o que são
portões baixos
de ferro
maltratados pela ferrugem e sereno
comportam tantas entradas e saídas
que me desconsola e entristece
porque sei que falam do que é a vida
perecível
enferrujando-se com o tempo.


quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Ele quase não sorria

Por detrás de um apanhado de fumaça
o vi
torpe
evitando toda claridade
dizendo, repetindo
que estava preso em si mesmo, girando
andando em círculos
por detrás de antiga fumaça
evitando toda a claridade que
afinal,
buscava.
Mas estava torpe.


Eu o vi?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Eu queria ser Adélia,
sentindo a aflição do mundo no limite da pele.
Estamos sem Deus, ela e eu
e ainda assim, “se porte”, é o que escutamos.
Entre geografias de rochas nascemos.
Devemos ser pedra,
abrigo de musgos,
porque em lodo não há raízes.



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O pecado é do excesso
de inferno
e de céu.

O pecado mora em se redimir
de todo pecado
de excesso
de inferno
e de céu.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

uma noite toda em claro
sob luz fraca
vi em suas olheiras
         -condizentes com as minhas

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

17:40, primeiro de dezembro de 2014


um frio afiado nos pés
como uma emoção acidental
uma força não agressiva
me acorda para a paisagem diminuída pela janela.
não há, no que vejo, a intensa luta política
                                          -ou seu burburinho
e nem ao menos um incômodo que peça confissão.


em movimento as coisas se deslocam como em traços de Monet
não há regularidade imposta
e se aceita toda tentativa de sentimento.

todos os pecados foram cobertos
e não há nenhum que esse vento frio de dezembro
possa descobrir.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014


ainda se deitam sobre meu travesseiro
seu nome junto à minha cabeça,
a idade média
a lembrança da janela
                             - essa terrível

ainda são cordões e estrada
seus dedos,
a torre da igreja onde pouso dois poemas decorados
tudo a que me seguro

contornos em vermelho frio
sua feição arcaica
onde dorme minha sombra
todo frio ou calor

ainda se deita sobre meu travesseiro
seu nome junto à minha cabeça